segunda-feira, 6 de agosto de 2012
O Medo Do Amor Martha Medeiros
Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que
enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos
temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo
ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente
sabe por quê. O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a
gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha,
o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa
surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá,
vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o
amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca
se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do
outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a
iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é
sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a
presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de
grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no
afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade. E ter o
amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público,
encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua
para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse
assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança
e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o
romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do
carro. Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os
olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas
também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos. Que
corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos
outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de
resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário